1000 vezes WeFunk. Fundador DJ Static conversa com o BF
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Hoje em dia, a proliferação das chamadas webradios (ou rádios da web) é muito grande. Existem aplicativos simples e softwares abertos que permitem que você produza um podcast ou um pequeno programa e o transmita para o mundo direto do seu quarto. Mas, no passado, durante os anos 90, não havia estas facilidades.
Fundada em 1996 em Montreal, no Canadá, por dois colegas de Universidade – Professor Groove e Mike Lai a.k.a DJ Static -, a WeFunk é um dois maiores exemplos de um show de rádio que começou quando a Internet ainda engatinhava. O programa, que tem como foco a música funk e o rap underground e/ou alternativo, está no ar até hoje e mantém alto nível em sua programação, valorizando a cultura Hip Hop e seus artistas.
Me lembro como se fosse ontem a primeira vez que escutei a WeFunk. O que mais chamava a atenção, e me entusiasmava, era que, além de tocar o ‘rap original’, característico boom bap, os shows apresentavam clássicos e raridades da música funk e grooves raros, que eu nunca havia ouvido. Na WeFunk eu podia ouvir o rap alternativo que buscava e, logo em seguida, a música original da onde havia saído o sample para a construção do instrumental. Mais do que isto, no website do programa eu podia conferir todo o playlist e então pesquisar em outros canais sobre o grupo ou artista do funk que havia tocado. Ainda hoje a rádio WeFunk toca raridades e isto é realmente incrível.
Vale ainda ressaltar que a música brasileira também é muito presente em diversas edições do programa, inclusive com a participação de DJs. O programa nº 895, por exemplo, contou com a participação de DJ Soares (Rael).
A rádio também tem um App – versão iOS e versão Android -, que você pode baixar no seu dispositivo móvel e conferir os programas a partir da edição 168. O milésimo programa vai ao ar no dia 19 de julho (sexta-feira), a partir da 1h da manhã (horário de Brasília) e um dos convidados dessa edição comemorativa será Bobbito Garcia, que também fez um programa de rádio muito importante nos anos 90, junto com o DJ Stretch Armstrong. Para escutar o programa 1000 ao vivo, acesse o site oficial da rádio CKUT 90.3 FM.
Aproveitando esta marca histórica, de 1000 programas, o Bocada Forte trocou uma ideia com um de seus fundadores, DJ Static, que nos fala um pouco sobre a história do programa, sobre a importância da música e da cultura Hip Hop.
P.S.: Professor Groove e DJ Static viajam o mundo todo tocando em festas e eventos. A muito tempo gostaria de conhecer os caras pessoalmente e poder curtir uma festa com eles no Brasil. Tenho certeza de que outras pessoas também tem a mesma vontade. Algumas oportunidades surgiram, mas infelizmente não conseguimos concretizar a vinda da WeFunk pra cá. Fica aqui a esperança de que, muito em breve, possamos trazer os caras para tocar em território brasileiro.
Bocada Forte (BF): Diga aos nossos leitores, no Brasil, um pouco da história da WeFunk. Como o projeto começou? Fale-nos sobre as inspirações e dificuldades para tocar o projeto também.
DJ Static: Anos atrás, em 1996, Professor Groove e eu éramos ambos estudantes na Universidade McGill, em Montreal. Nós nos envolvemos com a rádio da Universidade, CKUT 90.3 FM, porque ambos amamos o crescimento das rádio universitárias. Na América do norte, durante os anos 90 – antes da Internet – as rádios universitárias foram a fonte principal da música underground [alternativa], que você não escutava nas rádios comerciais. Nós nos encontramos pela primeira vez quando a rádio nos convidou para realizar um show piloto de 15 minutos de duração. Professor Groove é muito envolvido com o funk e eu com o Hip Hop. Fizemos então uma proposta para a CKUT para produzirmos um show que reunisse os dois estilos. Foi assim que nasceu a WeFunk.
Nos primeiros anos nós ficamos restritos ao FM, sem website ou arquivamento. Então, ao final dos anos 90, Professor Groove teve a brilhante ideia de nos colocar online, o que mudou tudo! Com um website e a webradio via streaming, nós começamos a receber feedbacks [mensagens] de lugares que nunca imaginávamos ter ouvintes – da África do Sul ao Brasil! Amigos voltavam de suas viagens e nos contavam que tinham ouvido nossas vozes em Tóquio, Amsterdam, Havaí e além! Foi então que nos demos conta que nós havíamos crescido e éramos muito maiores do que um simples programa local de Montreal. Ainda hoje nós continuamos a receber muitos feedbacks positivos. E é isto que nos mantém motivados nestes 23 anos!
Com o passar dos anos, nós nos conectamos com muitas lendas do Hip Hop, que nos inspiraram quando éramos mais jovens. E saber que eles também era fãs de nosso programa vai muito além do que inspirar. A forma como a WeFunk tocou as pessoas é incrível.
Nós fomos abençoados a tocar e participar de muitos casamentos de ouvintes nossos também. Ser tratado como membros da família por completos estranhos é surreal. Todo o agradecimento ao poder da música! A WeFunk tem sido uma incrível viagem.
BF: Quem faz parte do time da WeFunk atualmente?
DJ Static: A WeFunk começou comigo e com Professor Groove e continua indo ao ar semanalmente com a gente. Mas nosso time consiste de centenas de DJs ao redor do mundo, que contribuem com mixagens… E o time continua crescendo! Neste sentido, a WeFunk é um esforço comunitário. Somos um canal para os melhores DJs jogarem toda a música underground, crua, que eles não podem tocar nos clubes.
BF: A WeFunk tem algum meio de suporte financeiro ou é totalmente independente? Como as pessoas podem ajudar?
DJ Static: Desde o primeiro dia, a WeFunk foi um trabalho por amor. Professor Groove e eu nunca fomos pagos, nem nossos convidados. A casa da WeFunk é a CKUT 90.3 FM, que é uma estação de rádio sem fins lucrativos, que toca música underground e notícias alternativas. Assim, não temos toda a pressão que têm uma rádio comercial. Mas isto significa que dependemos do suporte dos ouvintes para continuar operando a cada ano. Quem quiser ajudar, pode fazer doações através do site http://www.ckut.ca
Quanto ao website da WeFunk, nós não existiríamos se não fosse pela hospedagem financiada pelos nossos ouvintes. Se você pode ajudar, por favor entre em contato através do e-mail pg@wefunkradio.com
PopwireTV entrevistou DJ Static, que falou sobre seus três álbuns prediletos. Confira! (em inglês)
O mundo tem uma memória terrivelmente curta e pioneiros importantes da música são esquecidos, infelizmente. Nós tentamos fazer a nossa parte, prestando um tributo a todos que influenciaram e moldaram o Hip Hop antes da gente
BF: Me recordo que quando escutei a WeFunk pela primeira vez eu fiquei muito entusiasmado, porque existiam poucas rádios internacionais com um playlist tão diverso e, ao mesmo tempo, sintonizado com a cultura Hip Hop. O cenário não mudou muito nos dias de hoje, penso eu. Como você vê a cena Hip Hop atual em relação a cena de quando a rádio começou?
DJ Static: Nossa fórmula é bem simples. Nós simplesmente tocamos as músicas que gostamos. Nós tentamos tocar músicas que são atemporais. Então, se você escuta um programa nosso de 10 anos atrás, você vai curtir os sons. Nós não perseguimos o que é pop ou está na moda. As pessoas são inundadas com ‘as mesmas 10 músicas descartáveis’ em todos os lugares. Nós tentamos dar as pessoas algo diferente. Há muita boa música se você cavar abaixo da superfície.
Nós também não nos limitamos a tocar somente lançamentos. Todo o show é como uma fantástica viagem em pelo menos 30 anos da música. O mundo tem uma memória terrivelmente curta e pioneiros importantes da música são esquecidos, infelizmente. Nós tentamos fazer a nossa parte, prestando um tributo a todos que influenciaram e moldaram o Hip Hop antes da gente. Um claro exemplo disto são os momentos de sample, quando tocamos uma música rap e a sua versão original.
BF: Com a ascensão do estilo trap, o boom bap rap, mais ligado com as raízes do Hip Hop, perdeu muito espaço nas rádios comerciais. Na sua opinião, qual a importância de manter o verdadeiro rap vivo?
DJ Static: Como toda a cultura, o Hip Hop está sempre evoluindo. Embora a gente respeite os arquitetos da cultura, nós também tentamos não ser tão nostálgicos, porque os novos artistas precisam ter o seu espaço. Se você observar novos artistas, como Kendrick Lamar, J. Cole e Anderson .Paak, você poderá ver que seus níveis artísticos e de consciência são tão elevados quanto qualquer outro artista da história do Hip Hop.
BF: Quase sempre a WeFunk traz um novo DJ para tocar e também tem sempre alguma entrevista com algum artista. Como vocês elaboram o formato de cada programa?
DJ Static: Nós apenas tentamos colocar nas duas horas de programa o melhor que podemos e damos o máximo. E isto fica muito mais fácil com a ajuda dos DJs que convidamos. A Internet é uma grande ferramenta para isto. Nós podemos nos conectar facilmente com qualquer DJ, em qualquer parte do mundo e colocá-lo no show.
O Hip Hop é uma ferramenta para a expressão. Por isto ele pertence a todo lugar. Transcende línguas e culturas e une as pessoas.
BF: Vocês também fazem apresentações em festas e eventos ao redor do mundo. Quais as impressões que você tem sobre a cultura Hip Hop nos países que visitou? Diferenças, similaridades?
DJ Static: O movimento Hip Hop é forte e está crescendo. O amor pela cultura é real e incrível. Eu me lembro de tocar um som do Mobb Deep numa pequena cidade do leste Europeu e a garotada rimava todas as letras, mesmo elas sendo muito mais velhas que eles. Eu também me lembro de visitar Cuba, no início do ano 2000. Embora lá não houvesse equipamentos ou estúdios sofisticados a cena era tão ou mais vibrante do que qualquer outra que havia visto. O Hip Hop é uma ferramenta para a expressão. Por isto ele pertence a todo lugar. Transcende línguas e culturas e une as pessoas.
BF: Como as pessoas podem contatar vocês para apresentações?
DJ Static: Mandem um e-mail para bookings@wefunkradio.com
BF: Vocês alcançaram a incrível marca de 1000 programas. Isto é fantástico! Quais os planos para o futuro da WeFunk?
DJ Static: Nosso objetivo foi sempre o de produzir um programa de rádio de alta qualidade e não temos planos de mudar isto.
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