Memória BF | Dulôco, um dos maiores e mais importantes Festivais de Hip Hop já feitos no Brasil
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No dia 8 de agosto 1999 ocorria o encerramento do festival Dulôco, considerado o maior evento de Hip Hop já feito no Brasil. Essa é uma data histórica que não pode ser esquecida, a nova geração precisa saber o quão grande foi o evento. Participaram nomes nacionais e internacionais, todos os elementos da Cultura Hip Hop tiveram destaque, não foi um show de Rap, foi a celebração da Cultura Hip Hop como um todo.
Foram três dias de festa (06, 07 e 08/08/1999) divididas entre duas unidades do SESC SP, a Belenzinho e Itaquera, com as seguintes atrações:
Black Alien, Nitro, DJ Spooky, Common, Afrika Bambaataa e Soul Sonic Force, Grand Master Flash, Jungle Brothers, Z’África Brasil, Posse Mente Zulu, DJ Kl Jay, Thaide e DJ Hum, Consequência, De La Soul, Batalha do Ano, palestras e demonstrações de Graffiti com os Gêmeos e Speto, Xis e Dentinho, microfone aberto e batalha de MCs (Kamau, Max B.O, Black Alien e J.L), palestras, oficinas e muito mais. Tudo isso foi organizado pela Gorilla Groove, que tinha como linha de frente Alex ‘Don KB’ Cecci (falecido em 04/03/2017) e Rodrigo ‘P Funk’ Brandão, em parceria com o SESC.
O Dulôco foi o embrião de eventos como o Indie Hip Hop e Festival Batuque, portanto os ecos do evento perduram até os dias de hoje. Qualquer pessoa que tenha ido jamais vai esquecer, o Brasil nunca tinha recebido um evento só de Hip Hop com essa proporção. É uma pena que só tenha acontecido em São Paulo, mas mesmo assim pessoas de diversas parte do país e até de países vizinhos se esforçaram para estar presente e conferir todas essas atividades.
Eu só não consegui ir ao primeiro dia, mas consegui marcar presença nos dois últimos dias no, então recém inaugurado, SESC Belenzinho. A sensação que eu tinha era que se eu não assistisse a apresentação daqueles artistas, principalmente os internacionais, era que nunca mais eu teria essa oportunidade. No caso do Common, por exemplo, não consegui assistir e ele ainda não voltou ao Brasil, pelo menos até agora. Outros como Bambaataa e De La Soul vieram pra cá diversas vezes nesses 20 anos. Aproveitando a lembrança, o De La Soul no último dia assistiu alguns shows no meio do público, ali meio de canto que até passaram batido pra alguns.
Além de todas as atividades envolvendo Graffiti terem sido muito importantes, também teve oficina de DJ com KL Jay e a Batalha de B.boys com Crews de diversas partes do país e até de fora, foi a primeira grande Batalha que aconteceu no Brasil. As batalhas de MCs não eram tão comuns, mas vinham ganhando força e o Dulôco abriu um espaço para os grandes rimadores da época.
Vale sempre lembrar o jeitinho brasileiro que muitos tiveram que dar para assistir os shows, pelo menos no SESC Belenzinho, já que chegou uma hora que não tinha mais ingressos. O SESC tinha algumas deficiências no controle das pessoas que pediam para sair com a desculpa de buscar alguma coisa no carro ou qualquer outra desculpa. Os seguranças pediam que na volta você apenas mostrasse o canhoto do ingresso, e ai a lotação aumentava, quem saia levava não apenas o seu canhoto.
Os mais “espertos” saiam com mais de um canhoto, ai entregava para os amigos que não tinham conseguido ingresso e assim o local foi ficando completamente lotado. Alguns contaram que até conseguiram vender!
Em 2009, dentro do Indie Hip Hop, foram comemorados os 10 anos do evento e até lançado um livro/dossiê. As atrações internacionais foram o B.boy Ken Swift, DJ Mista Sinista e o MC Mos Def. O Graffiti ficou por conta dos Gêmeos, teve exposição de fotos e as atrações nacionais foram: Pizzol, Pentágono, Inumanos + Max B.O., Contra-Fluxo + Espião, DJ PG, Xis, Nel Sentimentum, A Filial, Kamau + Parteum, Mamelo Sound System + Elo Da Corrente, DJ Pathy De Jesus, DJ Tamenpi e Thaíde. Em 11 de maio de 2011, a TV SESC transmitiu um especial sobre o evento intitulado ‘Indie Hip-Hop – Uma década de Dulôco’.
O Bocada Forte tem algum registro, seja em texto, aúdio, vídeos ou fotos, de todos os eventos que vieram a seguir, inclusive temos uma participação muito importante na conexão que fizemos entre Rodrigo Brandão e a pessoa responsável por fazer contato com os artistas internacionais. É uma história pra outra ocasião, mas li em um blog a história contada pelo próprio Rodrigo, citando outros nomes, até porque nem ele tem conhecimento dessa história, mas quem fez a ponte foi a Equipe do BF, que teve ajuda do Rangell (Versus2) lá da Bahia. História longa e curiosa que vai merecer um Especial Indie Hip Hop em breve. A DJ Yasin tá ligada nessa história.
P.S.: King Nino Brown não teve o seu nome incluído na programação oficial, mas ele participou contando a história do Soul Funky ao Hip Hop, através de uma exposição do seu acervo de flyers e capas de discos.
Confira um trecho das Batalhas de B.boys – A crew campeã foi a Supersonic B.boys (São José do Rio Preto). Em 2000 a Crew abriu os caminhos dos B.boys brasileiros em terras estrangeiras e foi representar o Brasil na Battle Of The Year, na Alemanha em 2000.
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