Memória BF | The Teacha, KRS-One completa mais um ano de vida
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Considerado por muitos como um dos maiores MCs de todos os tempos e também um dos mais notáveis representantes da cultura Hip Hop mundial, Lawrence Krishna Parker, mais conhecido como The Teacha (O Professor) KRS-One, nasceu em 20 de agosto de 1965.
O BF já publicou, afora seus diversos lançamentos em áudio e vídeo, três matérias significantes sobre o MC. Em novembro de 2014 publicamos a matéria “KRS-One: Os 9 Elementos da Cultura Hip Hop” e, em 2015, o artigo “KRS-One: O Hip Hop em Carne e Osso”, em referência ao lançamento do primeiro álbum do Boogie Down Productions, “Criminal Minded”.
Posteriormente, também publicamos outra reportagem especial intitulada “Hip Hop, filosofia, espiritualidade e metafísica. KRS-One e seus novos projetos”, que traz uma entrevista do MC publicada em 2019.
Abaixo alguns trechos importantes das matérias citadas acima, intercalados com vídeos do Professor KRS-One e o streaming para o último álbum lançado pelo MC, “The World Is Mind”:
KRS-One: o Hip Hop em Carne e Osso
KRS-One é, como muitos dizem por aí, “a cultura hip hop em carne e osso”. Desde que iniciou sua caminhada pela música rap, por volta de 1986, a qualidade de sua rimas, o conteúdo de suas letras e a forma animada e positiva com que apresenta-se nos palcos conquistam mais e mais fãs e admiradores.
Nascido em Park Slope, bairro do Brooklyn (NYC), em 20 de agosto de 1965, Lawrence Krisna Parker, conhecido como KRS-One, possui descendência nigeriana e jamaicana.
Com a vida marcada por dificuldades e superações, Lawrence, com apenas 13 anos de idade, sai de casa para ganhar o mundo. Moleque pobre e franzino, adorava jogar basquetebol, mas já demonstrava interesse pela leitura e fome de saber. Quando não estava pelas quadras de basquete, era visto na Biblioteca Pública do Brooklyn. À noite, refugiava-se num abrigo para moradores de rua, hora na ilha de Manhattan, hora no bairro do Bronx. E foi por lá que ele acabou por ser apelidado de “Krishna”, devido ao seu interesse pela espiritualidade e filosofia Hare Krishna. Foi justamente nesse ambiente que ele conhece seu grande parceiro, Scott Sterling. Juntos, costumavam sair à noite para trocar idéias e graffitar nos becos e trens da cidade. Em suas assinaturas o nome “KRS-One”, que significava “Knowledge Reigns Supreme Over Nearly Everyone” ou “O Conhecimento Reina Supremo Próximo a Todos”.
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KRS-One e os 9 Elementos da Cultura Hip Hop
Nova York, 21 de maio de 2006
As redefinições [N.T.: KRS-One refere-se a “refinitions”, um termo criado por ele, unindo as palavras redefinições e definições] que irei apresentar são uma coleção realizada pela organização Temple of Hip Hop (Templo do Hip Hop) dos termos culturais e códigos do hip hop, desenhados para proteger, preservar e estabelecer um Espírito comum para o hip hop e aumentar a auto-estima dos verdadeiros hiphoppers. Outras organizações da cultura podem praticar um diferente conjunto de elementos e termos. Contudo, nossas redefinições permanecem como uma ferramenta fundamental de ensino. Através desse “corpus de conhecimento” nós promovemos nossa auto-estima como especialistas culturais do hip hop.
DJing (estudo e aplicação da produção da música rap e difusão por rádio)
Comumente se refere ao trabalho de um disc jockey. Contudo, o disc jockey do hip-hop não toca simplesmente discos de vinil, fitas e CDs. Os deejays do hip-hop/rap interagem artisticamente com a execução de uma canção gravada, cortando, mixando e riscando a canção em todos os seus formatos gravados. Mesmo além da música e outras formas de entretenimento, o DJing, como um conhecimento consciente, não apenas inspira nosso estilo de instrumentação musical, mas também expressa o desejo e a habilidade para criar, modificar e/ou tranformar a tecnologia musical. Seus praticantes são conhecidos como turntablistas, deejays, mixologistas, grandmasters, mixmasters, jammasters, e funkmasters.
Breaking (estudo e aplicação das formas de dança de rua)
Comumente chamado de Break Dancing ou B-Boying, ele agora inclui formas de dança que já foram independentes: Up-Rockin, Poppin e Lockin, Jailhouse ou Slap-Boxing, Double Dutch, Electric Boogie e a arte marcial da capoeira. Também se refere comumente a uma dança de rua de estilo livre (freestyle). Os praticantes do Breaking tradicional são chamados B-Boys, B-Girls ou Breakers. Os movimentos do Breaking são comumente usados em aeróbica e outros exercícios que refinam o corpo e aliviam o estresse. Dança e outros movimentos corporais rítmicos aparecem na gênese da consciência humana. A dança também é uma forma de comunicação.
MCing (estudo e aplicação da fala rítmica, poesia e/ou discurso divino)
Comumente referido como rappin ou rap. Seus praticantes são conhecidos como MCs (Emcees) ou rappers. O MC é um poeta do hip-hop, que direciona e move a multidão rimando ritmicamente na palavra falada. O MC é um porta-voz. Tecnicamente, o MC é uma criação da sua comunidade, enquanto o rapper é uma criação das grandes corporações e gravadoras. (…) Saiba isso: um MC talentoso quase sempre se torna um rapper respeitado, mas um rapper talentoso normalmente nunca se torna um MC respeitado. O MC se expressa através da rima que já está em sua mente, enquanto o rapper te conta tudo sobre ele mesmo. Verdadeiros MCs devem estudar ambos os estilos para ter o máximo do sucesso.
Graffiti Art (estudo e aplicação da caligrafia de rua, arte e escrita à mão)
Comumente chamada de arte do aerosol, writing, piecing, burning, graff [N.T.: write: escrever; piece: peça; burn: queimar] ou murais urbanos. Outras formas dessa arte incluem bombing e tagging [N.T.: o tag pode ser considerado o irmão mais velho da pichação brasileira]. Seus praticantes são conhecidos como escritores, escritores de graffiti, artistas do aerosol, grafiteiros ou artistas do graffiti. [N.T.: para melhor entendimento das diferenças entre os termos, recomendo os seguintes sites: terminologia do graffiti; a arte do graffiti]. (…) Saiba isso: o graffiti como arte não é vandalismo! Tradicionalmente, a palavra graffiti se originou do termo “graffito”, significando um risco. Daí sua conexão com a arte dos DJs (o grafiteiro é um DJ visual). Assim, o graffiti foi um termo dado à arte gráfica do hip-hop, quando ela aparecia legal e ilegalmente em propriedade privadas e públicas como um ato de protesto social (especialmente em trens de subúrbio).
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Hip Hop, filosofia, espiritualidade e metafísica. KRS-One e seus novos projetos*
A maioria das pessoas não compreendem que fazem parte da história até ser tarde demais, disse KRS-One numa recente entrevista. O Hip Hop é uma cultura global e nós somos seus arquitetos culturais. O que falamos e fazemos hoje será a história estudada no futuro. Aquilo que acreditamos de nós mesmos hoje será o que nossas crianças irão acreditar sobre elas mesmas amanhã. Nossas ações hoje irão informar nossas crianças sobre o que elas são capazes e o que elas podem se tornar. É tempo de abordar a cultura Hip Hop como cultura global que ela realmente é.
Pergunta: No palco você falou sobre as pessoas não se darem conta que elas são a história, até que seja tarde demais. Pode falar mais sobre isto?
KRS-One: A declaração fala por si só. A maioria das pessoas não se dá conta que suas próprias ações e palavras são os ingredientes da história que eles, e suas crianças, irão viver no futuro. A ideia é viver uma vida da qual você tenha orgulho. Dar a você boas memórias em vivendo uma boa vida no presente. Sentimentos de inveja, raiva, tristeza e preocupação, e as ações que seguem com eles, nutrem uma vida de culpa no futuro. Mas sentimentos de paz, amor unidade e alegria, e as ações que seguem com estes sentimentos, nutrem um futuro empoderado. É bem simples. É por isto que é importante vivermos a vida de forma reta. Uma vida reta te dará lindas memórias. Te dará confiança em quem você é e naquilo que você é capaz de ser.
Pergunta: Na sua música “South Bronx”, você se declara: eu sou o “Professor” e os outros são “Reis”. Desde o momento em que você surgiu na cena do rap, em 1986, você é conhecido como “The Teacha” [O Professor]. O primeiro e oficial professor do Hip Hop. Qual é então o seu ensinamento básico, e o que é que você quer que o Hiphoppas saibam?
KRS-One: Bem, como você sabe, meus ensinamentos básicos podem ser encontrados no livro “The Gospel Of Hip Hop”. No entanto, o ponto principal é aliviar o sofrimento humano através da consciência, através do conhecimento, através de um conceito que eu chamo de “edutainment”, educação através do entretenimento. A maioria das pessoas sofre não apenas por causa de injustiça ou corrupção, mas mais por causa da ignorância. Sua própria ignorância. Não saber do que você é capaz, ou quem você realmente é “fora do seu nome”, sua idade e seu emprego, é a principal causa de dúvida, preocupação e depressão, e portanto fracasso. Por exemplo: você sabe, dirigir um carro é perigoso. Mas você não entra no seu carro preocupado em dirigir porque sabe como dirigir. Você tem um conhecimento, uma consciência, de dirigir, e essa consciência, esse conhecimento, é o que elimina todos os medos e anula todos os perigos potenciais. Alguém, sem saber como dirigir um carro, deve sentir alguma ansiedade se tiver que dirigir um carro. O mesmo pode ser aplicado à própria vida.
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*Entrevista concedida ao blog The Temple of Hip Hop, em 14 de abril de 2019
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